O rei dos pênaltis

goleiroRinaldo Ciasca, o famoso goleiro da Ponte Preta dos anos 50, se valia de uma explicação simplória para sua iniciação no futebol: “É que eu jogava basquete, sabia jogar com as mãos, aí me pediram pra jogar no gol”.

Ciasca foi um goleiro completamente incomum. Primeiro, porque não só gostava de ópera como entrava na concentração sempre carregando a sonata, o toca-discos da época, e um monte de discos 78 rotações.

A excentricidade de Ciasca não ficava só no gosto musical. No gol, ele combatia o tédio que muitas vezes invade a área com jogadas surpreendentes. Tão surpreendentes que há quem garanta que dois torcedores já perderam a vida no Majestoso por causa dos sustos provocados por Ciasca.

Assim como um Higuita de outra época, Ciasca achava muito chato defender bolas fáceis, fazer o óbvio debaixo da trave. O goleiro, naquele tempo, era obrigado a se vestir todo de preto, o que era uma identificação com a antipática imagem do juiz – os goleiros, aliás, não só ganharam importância no jogo moderno como usaram do marketing das cores dos uniformes para reverterem aquela condição de coadjuvantes do time.

Ciasca resolvia tornar fantásticas as jogadas mais simples. Quando uma bola vinha pelo alto, pouco acima da linha da cabeça, por exemplo, ele ficava imóvel por segundos intermináveis. Quando o gol parecia certo e a torcida entrava em desespero, quase que invadindo o campo com o olhar, ele, num movimento brusco, agarrava a bola atrás da cabeça. E, mais grave, abria um sorriso gaiato, o que deixava adversários, companheiros e torcida à beira de um ataque de nervos.

Quando ele não ficava satisfeito com os truques aéreos, ele lançava mão das peripécias em terra firme. Defender um despretensioso chute rasteiro era, para ele, uma afronta. Aí, como um gato, se jogava para trás e buscava a bola pelo rabo. Não é de se estranhar que os dois pontepretanos tenham mesmo repentinamente parado de torcer pela Macaca num desses jogos.

Mas nem só de sustos foi a carreira de Ciasca. Ele guardava o melhor de si para os momentos mais perigosos, o que fez com que ficasse conhecido como o rei dos pênaltis. Para se ter uma idéia, em um único Campeonato Paulista, em 55, ele defendeu 16 pênaltis em 22 cobranças. Rinaldo Ciasca pode ter sido, muitas vezes, um exibicionista. Mas nunca deixou que o tédio invadisse sua área.